O fato histórico da independência do Brasil (7 de setembro de 1822) é conhecido pelos estudantes brasileiros. Dom Pedro I, às margens do Riacho Ipiranga (São Paulo), proclama a separação do Brasil em relação ao país colonizador: Portugal. Que lições podemos tirar dessa separação, que completa 190 anos?
Durante mais de três séculos (1500-1889), as terras brasileiras abasteceram de matérias-primas seu principal colonizador e outros povos e nações da Europa que estiveram por aqui. São produtos tropicais, riquezas do povo brasileiro, retiradas para atender à sociedade europeia no contexto do capitalismo mercantil, ou seja, açúcar, tabaco, algodão, cacau, anil, madeiras. A pergunta que pode ser feita é: o que mudou, em termos econômicos e sociais, na realidade de hoje?
Outras independências
O 5º Fórum Urbano Mundial da ONU, realizado no Rio de Janeiro, em 25 de março de 2010, mostrou que o Brasil é o país mais desigual da América Latina. Metade da riqueza brasileira pertence aos 10% mais ricos (50,6%), enquanto os 10% mais pobres levam apenas 0,8% dos recursos do país.
Atualmente, existem 192 milhões de pessoas vivendo no Brasil. Destes, 55 milhões são jovens entre 15 e 29 anos, dos quais 31% são considerados miseráveis, com uma renda per capita familiar inferior a meio salário mínimo, e outros 54% com renda entre meio e dois salários mínimos. Onde fica, além da independência política, a independência econômica e social do povo brasileiro?
Todos os brasileiros são conclamados a participar em três níveis: planejamento, execução e resultados. O que acontece é que, na maioria das vezes, os trabalhadores são recrutados apenas no que diz respeito à execução. Traduzindo: os trabalhadores são os produtores da riqueza, mas são discriminados nos resultados alcançados. O ponto chave e crucial é a participação no planejamento, pois é ali que são tomadas as decisões fundamentais que encaminham os resultados para as camadas mais ricas da população. Onde, então, fica a questão da cidadania? A participação nos lucros?
O historiador brasileiro Capistrano de Abreu (1853-1927) cita dois termos para caracterizar quem somos: ele fala em povo “castrado e sangrado”, ou seja, temos dificuldade em reclamar, em reivindicar e, por consequência, somos sofredores, não participamos da riqueza deste verdadeiro continente, território que abriga esses 192 milhões de brasileiros.
A sociedade em geral aceita o discurso das elites que sempre elogiam o povo brasileiro como pacífico, ou seja, nada de reclamar, exigir direitos, defender medidas concretas que beneficiem a todos. Não é, então, uma constatação sem fundamento a afirmação da ONU de que o Brasil é o país mais desigual de toda a América Latina. A própria atividade política é uma das maiores fabricantes de ilusão. Concretamente, uma delas é o mito da igualdade racial. Temos no Brasil cidadãos de primeira e segunda classes, embora a Constituição afirme a igualdade de todos perante a lei.
O que se espera?
Aguarda-se uma reação por parte da população que vive uma situação de injustiça ao constatar que não dispõe de uma moradia decente, emprego, atendimento à saúde, escola de boa qualidade para todos. A violência física campeia solta. As camadas mais ricas se protegem com cercas elétricas, alarmes, muitas grades, planos de saúde...
Entretanto, como afirma Hélcion Ribeiro em seu livro A identidade do brasileiro (Vozes, 1994), a violência inclui outros nomes concretos: desemprego, má distribuição de renda, proliferação dos grandes latifúndios, expulsão do homem do campo, destruição do meio ambiente, falta de saúde do povo, presença de menores carentes e abandonados.
No momento, somos a oitava economia do mundo, à frente do Canadá e da Rússia. O que esta classificação representa concretamente? Precisamos de mais utopia ao lembrar a nossa independência. O que parece inalcançável hoje serve como ânimo para que não deixemos de caminhar, de exigir nossos direitos em direção a uma nação mais igualitária, já que a realidade está em permanente mudança. Assim, a nossa independência é um processo que continua atual dentro da nossa história.
Por: Osvaldo Biz
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